domingo, 22 de março de 2015

Do "vinagre" dos insubmissos ao "mel" dos acomodados.


A propósito da minha situação profissional na Assembleia Distrital de Lisboa um amigo disse-me, com um sorriso irónico nos lábios: “não se apanham moscas com vinagre”.
À pergunta sobre o que pretendia dizer, respondeu apenas: “estás mal porque queres!” Insisti em mais explicações e a muito custo lá disse: “colhes o que semeaste, quem te manda andar por aí a fazer denúncias? Ainda se fossem anónimas…”
Embora já calculasse a que se referia, fingi-me desentendida e pedi que se explicasse melhor. Já um pouco agastado retorquiu: “caramba será que não entendes mesmo? Ou estás a fazer-te de parva? Então tu dizes mal do homem e queres que ele te dê emprego e pague o salário?”
E com esta arrumou, em definitivo, a conversa. Deixei-o seguir o seu caminho e continuei a beber o meu café…
Aquelas palavras serviram, sobretudo, para eu perceber que mais vale estar só do que ter amigos destes que consideram a submissão um valor mais alto do que a dignidade. E pessoas que preferem estar ao lado dos poderosos por temor para mim são cobardes e nada mais.
Mas antes de voltar à minha situação profissional e ao “vinagre” (que, supostamente, uso) ou ao “mel” (que, na opinião do meu “amigo”, deveria usar) há que esclarecer que eu não ando a pedir a ninguém que me dê emprego. Sou funcionária da Assembleia Distrital de Lisboa (ADL), onde ocupo um lugar do mapa de pessoal desde 1987, e receber o salário no final do mês é um direito que me assiste, não uma opção discricionária de nenhum político.
E é bom que se tenha a noção de que se a minha entidade empregadora não cumpre os deveres a que está obrigada para comigo, em particular o pagar-me atempadamente a remuneração, isso deve-se, em exclusivo, ao comportamento ilegal e de má-fé da Câmara Municipal de Lisboa (CML) que se recusa a cumprir a lei, por ordem expressa do Dr. António Costa (sem pronúncia dos órgãos autárquicos do município), e não paga desde janeiro de 2012 as contribuições que lhe cabiam nos termos do artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro, e que o artigo 9.º da Lei n.º 36/2014, de 26 de junho, mandou regularizar.
Vamos agora, então, àquilo que o meu “amigo” diz ser o “vinagre” com que tempero as minhas intervenções: as denúncias públicas que faço sobre a situação da Assembleia Distrital com identificação nominal dos responsáveis.
E não se trata apenas da referência ao calote da CML que é responsabilidade do seu Presidente mas, também, das mentiras utilizadas pela vereadora Graça Fonseca (em quem o Dr. António Costa terá delegado o “problema” da Assembleia Distrital) e pelo Secretário-geral da CML, Alberto Guimarães, para justificar as posições da autarquia, até às suspeitas infundadas levantadas pela Arq.ª Helena Roseta e pelo Eng.º Hugo Pereira nas reuniões da ADL em que participaram em representação do município de Lisboa.
Por que razão é “vinagre” aquilo que eu digo (e tudo o que afirmo é provado) e os atos contrários à lei e em desrespeito dos mais elementares princípios constitucionalmente consagrados, apenas porque praticadas por aqueles que citei, o não são?
Por que razão devo “oferecer mel” (o meu silêncio e o meu respeito) a quem me confisca direitos e não mostra ter qualquer consideração pela minha dignidade enquanto trabalhadora?
Por que razão devo aceitar o que me estão a fazer como se fosse uma fatalidade e ficar submissa perante as humilhações sofridas?
A minha voz pode até ser insignificante quando comparada com a influência deles. A minha caminhada pode ser solitária enquanto eles têm uma corte que os protege.
Mas não! Não vou deixar que o medo de perder o emprego (ir para a “requalificação” é isso mesmo) ou de nunca mais recuperar os meus salários em atraso, vença.

Não me resigno nem me calarei. Até que se faça justiça!


########


E não é que hoje (domingo) voltei a encontrar aquele tal meu "amigo" de que acima vos falei?
Com a mesma desfaçatez de sempre, aproximou-se sorridente e remata: "Bom dia! Já vi que a nossa conversa te deixou nervosa." Perante a minha cara de espanto, avança: "Li o teu desabafo no face. E também mais outro dos ataques que fazes ao Costa."
Resolvi que o melhor argumento era manter-me calada e continuar, serenamente, a ler o jornal. Mas não é que o raio do homem tinha tirado o dia para me chatear? Devo ter-lhe saído na rifa.
"Se não tivesses transformado o problema numa questão político partidária talvez até te dessem razão e o problema já estivesse resolvido" continuou mesmo que eu não tirasse os olhos do Diário de Notícias. "Eu sei que estás a ouvir. Pensa nisso. Deixa de citar o Costa. Deixa de acusar a câmara de Lisboa. Deixa de envolver o PS na confusão. Sê mais humilde e pode ser que brevemente te resolvam a situação."
E foi-se embora.

Ora muito bem. Quem lhe terá encomendado o sermão? Quem andará assim tão incomodado ao ponto de enviar emissários com pacotes de conselhos "à la carte" para me tentar demover de dizer a verdade?

Essa agora! António Costa não pode ser citado por quê? Acaso não foi ele que decidiu, a título pessoal, à margem da lei e à revelia dos órgãos autárquicos do município, que a CML ia deixar de pagar à ADL? Acaso não foi ele que, em resposta a uma pergunta do vereador do PCP, na reunião do executivo de 24-04-2013 achincalhou publicamente a Assembleia Distrital e todos quantos nela trabalham? Será porventura mentira que a CML tem uma dívida para com a ADL e que dessa situação resultou a falência da entidade?
Quanto ao PS, por que razão deve ser branqueada a conivência passiva e submissa da bancada na Assembleia Municipal de Lisboa quando (em 17-06-2014) altera o sentido de voto numa recomendação do BE sobre a situação dos salários em atraso na Assembleia Distrital apenas porque António Costa interrompe o ato quando se apercebe desse facto e dá "instruções" nesse sentido (irregularidade permitida pela presidente da Assembleia em contrário à lei e ao regimento daquele órgão)?

Uma última dúvida. Será que a humildade referida era eu sujeitar-me a uma ida para o "canil" onde me pretendiam "amansar"?

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