terça-feira, 12 de agosto de 2008

Hortas da Costa de Caparica

De uma amiga, publico hoje um texto e poema alusivo, sobre um problema que está na ordem do dia aqui em Almada: Imagem tirada DAQUI
Da Aroeira para a Costa de Caparica está projectada uma estrada (cujas obras já terão começado às escondidas!?)...
Ao que parece, actualmente, a Câmara Municipal e o Instituto de Conservação da Natureza estão de acordo quanto à implementação do projecto.
Todavia, há uns poucos anos atrás a situação era diferente tendo-se vencido a guerra contra tal crime ambiental.
Mas, agora, aí estão de novo os olhões da especulação imobiliária... Ávidos, como sempre.
Alinda-se a frente de mar da Costa de Caparica com o POLIS, contudo, a seu coberto destrói-se uma das mais importantes áreas verdes da Área Metropolitana de Lisboa...
Não teremos de, mais uma vez, dizer NÃO? Não temos tempo a perder.

Assim vai o mundo!
HORTAS DA COSTA DE CAPARICA

“Polas hortas d´Enxobregas”
Nos falaste, ó Miranda,
De “rousinos asoviadores”. (1)

E pelas hortas da Costa
Eu te gido, Maria Emília,
(E a muitos outros),
Que não vai passar a pista
Que desejas, na tua visão,
De desenvolvimento sustentado.

Não, não vai ficar parado,
Isso te garanto eu,
O pessoal acordou.

Por lá não há rouxinóis
Mas há outra bicharada.
E couves, cenouras e nabos
E muitas outras plantinhas:
Umas já domesticadas
Outras reles, daninhas,
Que tu nem sequer conheces.

Mas eu à beira delas nasci. E cresci.
Mais longe, não foi por aqui.

Enquanto houver uma só cana ao vento
Não dormes, Maria Emília, em sossego.
Também nós não dormiremos:
Muitos já bem acordados,
Daremos as mãos, te asseguro,
Contra ventos e marés.

Não, não vais ganhar esta guerra.
Que vai ser dura, muito dura,
Mas não penses que ela vai ser
Como a do MST. (2)

A pista nem é largota
E é obra do (des)Governo.
Mas não vais estar ao lado
De qualquer pândego corta-fitas
Batendo palmas, contente,
Com o desenvolvimento sustentado.

Não vai haver infiltrados
Para estragar o estrugido
Nem outros feitos patetas.
Porque, se aparecer algum,
Logo será reconhecido.
E mandamo-lo assobiar
Como os rouxinóis de Enxobregas.

Rouxinóis de Enxobregas
Peço-vos, a sério, perdão,
Porque os vossos assobios
Nada têm de comum
Com os dos rouxinóis dos patetas.

Não, ninguém vai fugir de medo.

Meditando a pensar a perda e o ganho
Com o tempo acabamos por descobrir
Que valeu a pena não fugir:
Tu… aos trambolhões; eu… cá me amanho.

Amem.


Almerinda Teixeira
Costa da Caparica, praia da Cabana do Pescador, 21 de Julho de 2008


(1) Sá de Miranda – Carta a António Pereira, senhor de Basto, quando partiu para a corte.
Enxobregas: Xabregas, pois claro.
(2) Metropolitano ligeiro da margem sul do Tejo.

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